sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Contextos

A outros povos poderá ser deveras estranho que nós, portugueses, nos tenhamos familiarizado tanto, por exemplo, com a comédia britânica e ainda mantenhamos, pelo menos muitos de nós, complexos de rir «em português», das coisas simples da vida em Portugal.
Há pelo menos duas questões que aqui se põem (talvez haja mais e não me apeteça pensar agora em mais nenhuma): o preconceito, aquilo a que Pessoa chamou o «provincianismo português» (e isto é apenas parte dele segundo o poeta), que popularmente corresponde ao «lá fora é que é bom». Ou, «toda a gente adora essa coisa, eu também adoro», disse um senhor, talvez num cantão rural, sobre o tratado de Maastricht.
A outra questão é, obviamente, o contexto: Yes Minister é genial, sem dúvida. Que saudades tenho do imortal Nigel Hawthorne e do ministro paspalhão interpretado por Paul Eddington, que parecia sempre parvo demais – até nos lembramos dos exemplos reais.
Mas, assumamos o assunto de uma vez por todas, aquilo não é fácil. O inglês é, no mínimo, sofisticado, distante do «fuck you asshole» de Schwarznegger; e as piadas não são tão universais quanto podem parecer. Uma compreensão básica das instituições políticas britânicas leva-nos a perceber doutro modo.
Connosco, com as produções portuguesas, passa-se o mesmo: O Tal Canal é (re)visto ainda hoje por pessoas da minha geração, por pessoas muito mais velhas e por adolescentes que se espantam com o tempo em Herman José era genial e francamente inovador (o programa é ciclicamente revisto até ao enfado, mas isso são outros quinhentos). Mas tirem-no do seu contexto cultural e aquilo perde-se. Não vale a pena falar das piadas a respeito de coisas que se perderam no tempo. A questão de fundo é o contexto do humor, o seu tempo.
«For everything there is a season», cantavam os Birds, um original do influente Pete Seeger.
Também no que ao humor diz respeito, não me parece que haja receitas universais que durem sempre. Tudo depende de um contexto.

1 comentário:

flávia disse...

Pois sim André, concordo plenamente.
Amo as comédias inglesas mais até que as francesas e talvez as espanholas. as americanas nem podem entrar na discussão por não ter "gabarito" suficiente para tal.
não é?