quarta-feira, 30 de maio de 2007

Luzes... câmara... à cão!

Já pensaram o que aconteceria se, na cópula humana, macho e fêmea ficassem presos pelos genitais, como acontece no sexo canino?
O que aconteceria, por exemplo, quando dois adúlteros fossem surpreendidos?
Talvez Deus devesse ter dado à cópula humana esta característica, com vista a assegurar a fidelidade conjugal, como certamente a Igreja desejaria?


[nota: se fizerem uma pesquisa por imagens no Google com a expressão 'couple mating' aparece a mensagem "você quis dizer 'couple eating'"; em português do Brasil "sua intenção era pesquisar"... Bolas, isto está mesmo avançado!]

Perdido

Ontem, às 17:21:54, eu estava em Lisboa, onde permaneci durante todo o restante dia, e de onde não saíra até àquela hora. Mas, nesse momento, procurava o Pátio do Salema, perto da Baixa.
É um típico pátio alfacinha sem nada de especial a não ser o facto de que quem não é de lá se vê quase sempre confrontado com a impossibilidade de o localizar.
Eu estava perto, mas a verdade é que não o encontrei antes das oito e picos, apesar da conjugação da boa-vontade de vários transeuntes, a quem pedi ajuda e um GPS, e que mesmo assim ouvi com a atenção que sempre dedico aos simpáticos habitantes da nossa capital. Mesmo quando, como foi o caso, alguém que ostenta a farda da Câmara Municipal de Lisboa me responde «o senhor desculpe mas eu não sou daqui». Ou apregoar «o sôr controla aqui já esta rula [rua] e vai encontrar o Pátio do Cinema no vão duma contra-escada [sic] que hai lá». Nada. Talvez seja por isto que se diz popularmente que quem lá vive está mais salvaguardado que quem mora no rossio de Freixo de Espada à Cinta.
Conta a lenda que um conhecido mercador de Veneza, que Shakespeare aliás nunca conheceu, se perdeu à procura do dito pátio e nunca mais ninguém o viu.

Agora a sério

© Copyright Produções e Palhaçadas. Sketches de humor tão inteligente que apenas 1 em cada 19 indivíduos demonstram a capacidade intelectual para perceber e efectivamente rir.


Sketch 1
A irmã Gisela, da Ordem de Lúcia Lima, passeia sozinha num beco sombrio de Lisboa. Estamos na cidade mas ouve-se um mocho ao longe, depois outro, vindos duma clareira que não se vê porque não existe. Ao caminhar sobre uma saída de ar assusta-se com a corrente quente que lhe levanta o hábito (sabemos por experiência própria que isto seria impossível, por causa do corte dos ditos hábitos; a Igreja católica sempre se precaveu contra tal possibilidade, mas nada disto vem ao caso agora). Depois Gisela goza o efeito, como Marilyn antes dela, dançando sensualmente ao som da música de fundo que entretanto começa a tocar.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Pecado mortal

A razão de não abandonamos de vez a Microsoft, apesar de sabermos o suficiente sobre as suas práticas e todos os dias termos dores de cabeça quanto baste para o fazer de imediato, tem tudo o que ver com a parábola dos cegos. (Lucas, 6:39)








Alarvidade

Aqui ao lado alguém confecciona uma sandes mista com enchidos (e não eram de uma qualidade qualquer) e queijos vários. Com franqueza. Não é a dietética que me preocupa aqui, embora isto seja de tirar o sono a qualquer cidadão consciente que se pese. É um pouco como apreciar umas amêijoas a Bulhão Pato pela metade e depois um belo cozido à portuguesa.
Bolas, ou uma coisa ou outra. Ninguém passa uma noite romântica com a Andie MacDowell e a Meryl Streep ao mesmo tempo. Para isso amanha-se com duas louras quaisquer. Certas coisas na vida exigem exclusividade.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

A idade da Inocência (ninguém lhe dá mais de 83)

Um professor que tive, hoje um querido amigo, explicou-nos uma vez o que é uma metáfora. Eu, pelo adiantado da idade (74) e da parvoíce petulante, pensei «queres ver que este agora nos quer ensinar a todos, no 4º ano duma licenciatura em História, o que é uma metáfora?!». E ensinou mesmo. Não estou tão senil que tenha esqucido.
Explicou-nos ele que ‘metáfora’ é uma palavra que significa ‘transporte’, em grego, claro está (são os gregos os pais da retórica, e mesmo hoje, o comum dos mortais não tem senão umas luzes, melhor dizendo, umas sombras, das possibilidades da retórica clássica). Especificamente, é o transporte de uma palavra para fora do seu campo semântico. Atentemos no exemplo clássico dos manuais: «Aquiles era um leão na peleja». A palavra ‘leão’ está deslocada, não é este o seu campo semântico. O lugar do leão é a ressonar à sombra de uma copa frondosa enquanto a leoa sua as estupinhas para alimentar a família. Hoje em dia os leões passam imensas horas no cabeleireiro e um em cada três destes grandes felídeos é um metrosexual.
O meu amigo teria cumprido o seu papel de bom professor se a sua explicação tivesse ficado por aqui. Mas não ficou. Foi brilhante.
Se há assuntos que despertam a atenção, mesmo quando em coma profundo, duma plateia de estudantes com hormonas pululando, esses assuntos são o amor e, em particular, o sexo. Assim, quando nos aconselhou que reparássemos nas metáforas bélicas ou guerreiras presentes na linguagem amorosa, deveras pasmámos: “Conquistar” alguém. “Lutar” por alguém. São metáforas que se tornaram banais, mas, de repente, eis que se iluminam.
Depois, para premio duma assistência em júbilo: «bom, e o que dirão dessas metáforas gastronómicas, sempre tão em voga?» De zero a cinco, demos-lhe quinze.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Abram-se os olhos de uma vez

Porque ninguém que tenha os olhos bem abertos pode ser indiferente ao estado a que isto chegou.

Eu fui a Nelas ver as pulcras...

Afinal de contas é mais simples do que pensava explicar a não sobrevivência de certas palavras em detrimento de outras, na nossa língua. Por exemplo, pulcra. Os que estudaram latim devem lembrar-se do enfadonho “rosa pulchra est”, que é uma coisa que em português se diz, até com grande frequência, “A Rosa é bela”. Na verdade pulcra é português do fino. Um pouco arcaico, mas português.
Creio que não é preciso fazer nenhum comentário sobre as razões pelas quais pulcra já não se usa. Alguém imagina o típico janota cheio de pinta dizer à escultural namorada “eh pá hoje ‘tás muita' pulcra pá. É que nem há palavras para definir a tua pulcritude!




[mais uma ideia do meu amigo Mané; aqui em cima, o dito Marylin e a Dita Von Teese]

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Todos à uma

No momento em que escrevo há dez candidatos à presidência da câmara de Lisboa. É compreensível. Não pagam nada mal e é um cargo que traz prestígio, influência e um condomínio de luxo na capital. Entretanto, se o número de candidatos continuar aumentando a este ritmo, o boletim de voto será provavelmente um desdobrável.

Entretanto, o demissionário Carmona Rodrigues, o mesmo que se demitiu pouco depois de ter sido constituído arguido (e um pouco antes de aceitar um qualquer tacho chorudo onde menos esperarmos) anunciou poucos dias depois que não se recandidataria, por não estarem reunidas as condições para isso, justificação que não compreendemos.
Agora, para júbilo de todos os que não o apoiam, disse que afinal se recandidata e… só um momento, estão aqui a fazer-me sinal… como?! Um fax da candidatura de Carmona Rodrigues? Não querem lá ver…!

[na t-shirt da rapariga lê-se, em inglês, "eu sei o que os rapazes querem", numa referência clara a alguns candidatos à presidência da Câmara Municipal de Lisboa]

Oportunistas !

Registámos um número invulgar de comentários perguntando pela identidade da mulher que aparece no post anterior. Pronto, eu apresento-vos, é a Monica Bellucci. Experimentem 'clicar' na fotografia e observar as curvas com atenção, talvez vejam mais do que esperam...
Não sabia que vinham a este blog só por causa das fotografias de belas e belluccis... tomem lá esta que não sei quem é, mas sempre parece bastante simpática. Podem ver mais fotografias desta jovem num site muito bom sobre cuidados de saúde, que aconselha a pratica do cunnilingus para diminuir o stress de toda a família, exactamente aqui.

Sabia que...

...as férias melhoram a vida sexual do homem, já que tem mais tempo para estar em cima do acontecimento ?




[segundo uma ideia de M. Andrade]

terça-feira, 22 de maio de 2007

Gladiador II

Dias há em que os primeiros minutos são aqueles que nos rendem as melhores ideias. Talvez porque são estes que estão mais perto do sono e de um dos seus mais apreciados frutos, os sonhos.
Hoje sonhei que revivíamos alguns dos mais sórdidos costumes romanos. É certo que o nosso direito é o romano, mas houve umas coisinhas muito engraçadas que se perderam. Vamos recuperá-las?
Sonhei (e vocês, imaginem) que Carmona Rodrigues, por ter sido constituído arguido, era lançado aos leões, com patifes de toda a casta, velhos gladiadores já inúteis para o combate, etc.…
Parece que ainda o estou a ver, bradando aos lisboetas, que dele riam sarcasticamente, a bandeiras despregadas:
«Os lisboetas conhecem-me! A minha cidade é Lisboa! O meu rio é o Tejo! A minha canção é o Fado!!»

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Descubram as diferenças

Circulou há uns tempos pela Internet um texto sobre as diferenças entre o duche do homem e o da mulher. Para além de divertido, era bastante realista. Então não é bem verdade que nós, hombres de barba rija, para além do rasto de desarrumação que deixamos na casa de banho que no fundo é delas, fazemos luxo em passear nus e exibir o membro à namorada, quais trogloditas, como que para a impressionar, ou mesmo assustar?
Escusam de se armar em parvos, machos aí desse lado. Nós sabemos que isto é verdade.
Vou dizer-vos uma coisa que vocês vão prometer não dizer a ninguém. É que eu, infelizmente, já vi as duas faces desta moeda, ou seja: tanto a impressão que nós próprios temos da linda figura que fazemos, como também a perspectiva delas, as mulheres. As nossas mulheres.
Eh lá! Queres ver que vêm para aí revelações íntimas sobre a vida do mais carismático autor deste nosso blog?!
Caladinhos! Não é nada disso que estão a pensar. É que…
Um dia, estava eu na bela casa de praia dum casal amigo (deveríamos ter sido quatro, mas houve uma reles amiga que não nos acompanhou comforme estava previsto), fazendo um pouco as vezes de pau-de-cabeleira. Ora nesse dia, logo de manhãzinha, não é que me sai o moçoilo meu amigo do seu duche com todo o à-vontade de quem pensa que vai encontrar apenas a boa da namorada – que o era, em todos os sentidos (entretanto emigrou, casou com outro e parece que engordou imenso). Mas fora ela a sair para as compras, e fui eu a gramar o espectáculo degradante de ver um homem exibir as suas partes baixas como se fossem o mais plausível candidato na eleição para as novas maravilhas do mundo. Desde então, a sério rapazes, acho que deveríamos repensar este ritual…

Right between fields

Esta manhã, em Entrecampos, os primeiros utentes daquela estação do Metropolitano de Lisboa terão pensado estar ainda no seu segundo sono, ao ver um carro em plena escadaria de entrada do átrio sul. O veículo, que estivera estacionado em cima do passeio a poucos metros do local, foi violentamente abalroado por um outro, protagonizando um aparatoso acidente.
A polícia suspeitou que o sinistro teria qualquer relação com os acidentes ocorridos no Porto, há alguns meses, quando mais que um indibíduo foi apanhado conduzindo em plena via-férrea. Talvez fosse um gang, terão pensado. Alguns sugeriram tratar-se de algum adepto desesperado do Benfica ou do Sporting, outros de uma insólita acção de campanha eleitoral.
A Câmara Municipal de Lisboa já anunciou que, apesar de ser extremamente raro os lisboetas estacionarem os seus carros em cima do passeio, os incautos que repetirem a graça estarão sujeitos a pesadas coimas que os farão pensar duas vezes.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

The Barrison Sisters


Quaisquer senhoras com esta originalidade e atrevimento (nos finais do século XIX) merecem o nosso tributo. Costumavam cantar Would you like to see my pussy?, levantando então as saias à resposta pronta do público e mostrando, entre as pernas, um gatinho simpático... Entre nós, salientamos a influência que tiveram sobre os Três Pastorinhos. Saibam mais aqui...

Voulez-vous...?


Estava ontem no café para a minha sacramental sandes de queijo e imperial. Na mesa ao meu lado, uma garina muito jeitosa (o Word não reconhece ‘garina’, obviamente; sugere ‘marina’, ‘varina’ e até mesmo ‘garimpar’) tenta explicar o caminho para sua casa aos seus amigos franceses, para uma festa de arromba, mas a coisa não está a correr muito bem a esta jeitosa tuguinha pouco dada a francofonias. Decide-se finalmente a desenhar o caminho para a sua casa na toalha de papel, que prontamente rasga para dar a ses amies. E nós, vendo aquelas duas belas e voluptuosas pernas já bem bronzeadas, falando um dialecto muito próprio, de sauna, samba e mornas, decidimos perguntar se não nos deixa tirar uma fotocópia.

P.S. Vejam, na Wikipédia, a entrada Voulez-vous coucher avec moi?

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Novas do Jet Set


Pimpinha Travassos foi ao dentista. Nós fomos com ela. Por acaso não precisávamos, mas fomos acompanhá-la. Vimos Pimpinha abrir e fechar a boca imensas vezes sem dizer nenhuma coisa super interessante, mas fizemo-la prometer que voltaria para pormos a conversa em dia.
Está já reclinada na cadeira, de boca escancarada. O higienista Branco das Neves está com ela. Maneja com habilidade a broca, o estuque provisório e os toalhetes de papel. Tira do estojo de higienista, acabado de estrear, um ovo, que bate cuidadosamente no rebordo de uma frigideira e estrela-o com destreza. A sua ajudante, recolhida aleatoriamente na sala de espera, vai entretendo Pimpinha o melhor que sabe.
«Sei lá, Pimpinha, diga ‘aaaaaaah’»
«aaaaaaaaaaaahh»
«outra vez… assim de repente não me lembro de mais nada»
«aaaaaaaaaaaahhh»

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Mais Pão com Manteiga, se faz favor

A ingratidão é um sentimento que me preocupa. É prima do esquecimento, já agora. De todo indesejável, se querem saber o que eu acho.
Este intróito é para vos dizer que, embora não tenha nunca chegado a ouvir o programa de rádio Pão com Manteiga, fiquei sempre fã dos seus criadores (penso que eram Bernardo Brito e Cunha, Carlos Cruz, Eduarda Ferreira, José Duarte, Mário Zambujal e Orlando Neves, espero não estar a omitir nenhum nome) depois ter lido o livro até à exaustão, tinha para aí uns doze anos. O Pão com Manteiga é um grande exemplo de como se faz bom humor em Portugal.

Seria pois injusto esquecer esta criação extraordinária. Mas é difícil aconselhar-vos a não perder: o programa acabou há décadas, o livro provavelmente só em alfarrabistas, e mesmo uma pesquisa nos salutares sítios da Internet que se dedicam a revivificar estas coisas dá um número assustadoramente baixo de resultados. Para saberem o quanto isto vale a pena, aqui ficam três das poucas pérolas que consegui encontrar, enquanto não revisito o livro que está na casa materna.

«A amiga pulou da cama, fresca, matinal, ainda cheia de orvalho e espreguiçou-se longamente em frente ao espelho.Deu o primeiro sorriso do dia a Roque, que a espreitava pelo canto do olho enquanto acendia a beata que apagara cuidadosamente na noite anterior. A amiga voltou a olhar o espelho, sempre sorrindo e prendeu o cabelo com dois ganchos. Depois, saltou para a balança e o sorriso apagou-se.
- Que foi? – Perguntou Roque.
- Dois quilos a mais… – esclareceu a amiga. Roque deu uma pequena gargalhada.
- E você ri-se! – Enfureceu-se a amiga. E encostando-se à cama perguntou:
- Onde é que está a graça, roque?
- É que por este andar, ainda passo a ser conhecido pelo Roque da pesada…»


CONJUGAÇÃO DO VERBO "FUGIR"

Eu fujo

tu safas-te

ele some-se

nós damos às gâmbias

vós ides na guita

eles raspam-se

Eu fugi

tu cavaste

ele deu às canetas

nós pirámo-nos

vós destes o fora

eles deram à sola

Eu fugia

tu davas às de vila-diogo

ele levava sebo nas botas

nós pusemo-nos na alheta

vós íeis com o gás todo

eles pisgavam-se

Eu fugirei

tu irás na gasosa

ele tingar-se-á

nós passaremos as palhetas

vós ireis na patanisca

eles pôr-se-ão a milhas

Eu fugiria

tu irias a toque de caixa

ele daria às flautas

nós levaríamos fogo no rabo

vós bateríeis a asa

eles iriam a nove.

Estas que se seguem, sei-as de cor, ao fim de todos estes anos:


Era um homem vertical, de espírito recto. Foi por isso que o mandaram dar uma curva.

Os pontos, a partir de dois, mudam de sexo. Passam a ser reticências.

Aluga-se teleobjectiva para fotografar parentes afastados.

Senhora míope procura cavalheiro com astigmatismo para troca de pontos de vista.

A ginástica é óptima para as crianças. Cansa-as.

terça-feira, 15 de maio de 2007

O melhor de todos os patifários

Enviem-nos os vossos comentários por carta, estafeta, caravana ou mesmo e-mail. Em último caso, utilizem a opção «enviar um comentário», no fim de cada post. Nós, parafusos que cá estamos, pelos vossos esperamos!
Esta semana publicamos uma carta da nossa simpática amiguinha Mané, de Celorico da Beira.


O Patifário

Lisboa inaugurou em 1998, com pompa e circunstância, o seu Oceanário. Desde há muito, sem pompa mas aproveitando todas as circunstâncias, Portugal inteiro tornou-se um enorme Patifário.

Um Patifário é um Oceanário – para patifes.

Tal como o Oceanário, o Patifário é a reprodução de um habitat natural, mas em que são optimizadas as condições de vida das espécies a proteger e anulados os predadores. Deste modo, a espécie a proteger – o Patife – encontra reunidas as condições ideais de sobrevivência, desenvolvimento e proliferação, sem que nada estorve a sua constante evolução como espécie.

Aqui, a espécie dispõe de muito amplas áreas líquidas, já que nesta conjuntura quase nada é sólido. De modo a proporcionar a utilização de camuflagem, tão útil a predadores de emboscada, todo o ambiente do Patifário se encontra revestido de leis complexas e obscuras e de mecanismos sociais e legais espessos, pesados e lentos.

Com esse mesmo objectivo, os responsáveis do Patifário recorrem frequentemente a serviços de outros especialistas, que sabem criar correntes de opinião para que a predação seja facilitada, distraindo a espécie que constitui o alimento base do Patife: o parvo.

O parvo labuta por alimento e alojamento, tentando sempre não se cruzar com a espécie protegida. O receio de confrontos leva-o até a pagar altos impostos e taxas abusivas sem protestar, de forma a passar despercebido ao predador. O parvo não tem protecção nem para si, nem para as suas crias, nem para os seus bens, já que os responsáveis pelo Patifário sabem que o seu número imenso continuará sempre a ser suficiente para as necessidades do Patife, tanto mais que esta espécie tão voraz não rejeita o canibalismo.

Neste Patifário medram várias subespécies, que vão desde os Patifes de grande porte até às mais minorcas e desprovidas sub-raças de seguidores.

O Patife de grande porte exibe-se no Patifário, perante olhares admiradores, com todos os atributos da sua próspera condição.

Aqui há tempos desviou uns subsídios, aldrabou um sócio ingénuo que até era amigo dele, arrasou a economia da empresa por gestão desmazelada, deixou de pagar salários, conseguiu manter os empregados a correr atrás da cenoura durante uns meses, declarou falência da empresa e fechou a porta. Na semana seguinte abriu outra empresa, candidatou-se a outro subsídio, vai-se encher durante uns tempos e recomeça o ciclo.

Entretanto, manobrou umas influências, arranjou um cargo num Instituto, fez uma viagenzita numa comitiva governamental. Ninguém o incomoda, nem mesmo quando conduz, cheio de whisky, a 210 km/hora: tem o cunhado no governo.

O Patife de pequeno porte exibe o seu sorriso cheio de auto-estima e conta a toda a gente os seus feitos: não paga nada que não lhe apeteça pagar. Dá moradas falsas, passa cheques carecas. Tem uma ligação directa ao candeeiro da rua e um aramezinho para a TV Cabo do vizinho de baixo. Recebe o rendimento mínimo garantido e a pensão da velha que já morreu há oito anos.

Entretanto, a mulher arranja empregos nos intervalos do subsídio de desemprego e o puto “se não quer ir à escola, não vai – o problema é dele!”. Ninguém o incomoda, nem mesmo quando estaciona a carrinha a bloquear a rua: tem o cunhado na polícia.

Quer um, quer outro, quando ouve alguém queixar-se de alguma contrariedade, diz a frase batida: “Oh pá, isso é porque tu não sabes! Eu cá…” e explica, embevecido com a sua própria inteligência, como tirar o melhor partido das inegavelmente excelentes condições oferecidas pelo Patifário.

Sim! Porque estamos sempre a dizer mal do País, mas em termos de Patifário, não há como o nosso!


Maio 2007
Mané

What a difference a day makes

Vira uma pessoa costas a este blog por dois dias e acontecem destas… há por aí, como diria o bom Jorge Nuno, um indibíduo que eu nôn conheço de lado nenhum a enviar posts desengraçados sobre a sua vida privada. Enfim. Vamos esperar que o sujeito cresça e volte a ser tão engraçado como era quando era pequenino.

Volta uma pessoa costas a este blog por dois dias, dizia eu, começando a convencer-se daquilo que todos já constataram, não sem algum embaraço (que nós não temos piada), eis senão quando nos chega um presente que nos faz pensar que talvez seja desta, como o bom do sportinguista no início de cada campeonato. Lembram-se do Gato Fedorento dizer que tinha tido uma semana pouco inspirada e depois Pedro Santana Lopes lançou um livro? Pois connosco, salvaguardando as devidas distâncias, aconteceu coisa parecida. Enviaram-nos um artigo delicioso sobre mais uma posta de arenque fumado ao bom estilo Miguel Sousa Tavares (MST) e pronto, lá têm vocês que gramar mais esta.

O Miguel, que como é sabido, defende a canonização de Pinto da Costa e de todos os fumadores de cigarros, charutos e tudo o mais que potencialmente transforme um homem são numa daquelas fábricas dos séculos XIX, XX e XXI, sem filtros para a exaustão de gases tóxicos, a apodrecer de vários cancros, ignorado num qualquer hospital de província, ventilado e entubado por todos os poros.

O Miguel, cujo raciocínio acutilante não deixamos todavia de admirar (principalmente quando em silenciosa meditação), disse, no único canal que se dispõe a dar voz à sua critica semanal, feita normalmente em tom arruaceiro e voz de bagaço, que as perigosas criancinhas que os pais levam para todo o lado, inclusivamente cafés e outros espaços fechados, são muito mais nocivas que os fumadores. Que mais vale um cigarro na mão e um fumador num café do que uma criança perversa a fazer pleno uso dos sadios pulmões que Deus lhe deu.

Acho que devemos solidarizar-nos com MST e proibir a entrada a crianças e seus acompanhantes, nos cafés. Sim, as crianças e os bebés chorões que gritam e berram e guincham e vociferam quando a caca lhes arde nas fraldas. Para alem disso, promover o livre e são exercício do acto de fumar cada vez mais, em espaços cada vez mais fechados. Poderíamos pensar até em promover o fumo até à intoxicação mortal das ditas crianças, que assim deixariam automaticamente de gritar.

E a legislação? Pensam que diz alguma coisa de crianças aos gritos nos cafés? Completamente omissa. Defende a legislação a prática de corrupção ao estilo do bom Jorge Nuno? Também não. Olhem que é má vontade. O Miguel, digamo-lo aqui sem rodeios, é, também ele, uma vítima do sistema. Ainda há quem estranhe aquele ar de quem não dorme há mais de três quinze dias?

segunda-feira, 14 de maio de 2007

A origem do nome...ou o nome da origem!

Por: Tiago Pereira da Silva

Está na hora de revelar a verdade... Aquela que nos tem assombrado a todos, sem excepção, nos últimos anos. Aquela que, tendo permanecido todo este tempo oculta, nos fez mais pobres, menos sábios, estes anos todos.
Está na hora de explicar a origem do nome "O Sapo e a Parafusa". O meu irmão mais velho insiste em dizer que se trata de uma estória, sem (h) .. com que eu entretinha os adultos lá em casa, amigos de família, etc. O poder criativo era tão grande, que algumas sessões prolongavam-se horas a fio. Pois bem, tenho para mim que fizeram por diversas vezes o seguinte comentário à minha mãe: "Ó Cidália mas este puto não está nada bem" e depois iam-se rindo para mim para aliviar a tensão.

Eis que surge a verdadeira história. A minha versão dos acontecimentos, então sem mais atrasos, aqui vai na íntegra:

Encontravamo-nos no ano de 1984, era eu um puto pequeno - para aí com uns 4 anos e extremamente sensato, que sonhava com os filmes do Super-homem e do Indiana Jones, e jurava querer ser comido pelo protagonista do filme O Tubarão - o próprio bicho. Lembro-me como se fosse hoje, certa noite eis que surge no nosso escurecido terraço uma luz profunda bem do alto do céu ... nesse momento em que pensei estar a viver um encontro imediato do terceiro grau... só para invocar todos os filmes com banda sonora de um tal John Williams, que de repente, não mais que de repente começou a tocar na minha cabeça... mas não é essa questão! Nesse exacto segundo em que começo a elaborar o pensamento, sou.... exacto ... é isso mesmo que estão a pensar, sou abduzido por ETs, que nunca antes me haviam contactado. Ainda lhes falei da experiência anterior, de andar em cima do telhado a roubar as matriculas dos OVNIs mal estacionados de uns primos deles, mas na verdade não me deram muita bola. Estavam de facto mal intencionados.

Já dentro do OVNI, o comandante conta-me a história do Sapo e da Parafusa e, em jeito de premonição, numa espécie de aparição da Nossa senhora de Fátima aos três pastorinhos, confidencia-me que a minha história vai chocar o mundo.

Ao mesmo tempo que acaba de me dizer isto, somos surpreendidos pela chegada de um novo passageiro a bordo do OVNI, certamente também abduzido... imaginem quem ? George W. Bush. Exacto. Para quem respondeu este nome.

Foi então que o comandante, sem saber o que fazer, pronuncia-se sobre o terrível segredo por revelar... Este é um sujeito de uma espécie não existente. Não estudada. Mas tu, Tiago, jamais poderás informar os terrestres. Apesar da minha tenra idade, estava incumbido de uma árdua tarefa, ter que guardar ao mundo durante praticamente duas décadas as peripécias desumanas que faziam parte do seu divertimento pessoal.. desculpem.. enganei-me, disse pessoal como tratando-se de uma pessoa. Bom, mas onde é que eu ia? Exactamente! A parte em que aproveitando a distracção do comandante, o George (para os amigos) diz-me: Eu tenho a certeza que estes gajos são da Al-qaeda e tem armas de destruição massiva, Tiago, feita de sapos e parafusas. Ao que eu respondo: Boa ideia Jorge.

To be Continued...

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Mitos da criação, ou No Principio isto estava tudo cheio de pó (II parte)

A Terra é o único local onde se sabe existir vida. É provável que não seja o único. A SETI (Search for Extra-Terrestrial Intelligence) é uma organização muito esforçada que procura vida inteligente nos outros planetas. Usam aparelhagem tipo “último grito”, mas esta ainda não captou nada lá por fora e parece que por cá também não, embora isso não seja oficialmente assumido. Também se diz que é das poucas organizações norte americanas que procura vida algures aparentemente para a estudar e não para a exterminar.
Não são muito conhecidas as posições da Igreja sobre a vida noutros planetas. Muitos católicos compreendem, todavia, que se Deus é omnipresente, omnisciente e omnipotente, é natural que se preocupe pouco com este planeta em particular, o que explicaria o enorme regabofe em que nos meteu.

Parece que a Terra se formou a partir da agregação de poeira cósmica em rotação. Por isso se diz “do pó viemos, e ao pó voltamos”, em checo “ashes to ashes, dust to dust”. Não é muito animador, mas é mesmo assim.
De facto, de Isabel II até à Cinha Jardim, passando pelas minhas vizinhas do 5º Esq., todos havemos de ser pasto para os bichos da terra. Esta é uma ideia que me agrada particularmente. Por causa dela raramente estou deprimido. Podem dizer-me: tiraste um curso de História que nunca te levará a lado nenhum, o teu partido não ganhou as eleições, nunca irás ao Big Brother dos Famosos, o teu blog nunca tem visitantes. Não importa. Um dia todas estas vozes se calarão para sempre e estas mesmas gargantas maledicentes e verborreicas ficarão frias, cinzentas, putrefactas e nelas passearão baratas ainda não classificadas pela ciência.


[A Terra no Sistema Solar – não vale a pena iludirmo-nos, de grandes não temos mesmo nada. Na imagem, lado a lado com Neptuno, cujos habitantes nunca se bronzeiam nem aparecem na revista Caras]

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Mitos da criação, ou No Principio isto estava tudo cheio de pó

Começamos hoje a publicar uma série de palestras sobre a origem e sentido da nossa existência na Terra. Devemos a Douglas Adams (1952-2001) e aos Monty Python a inspiração. As teorias, opiniões e outras tretas aqui expostas são da nossa exclusiva responsabilidade.

Provavelmente desde que o homem levantou do chão os membros superiores para coçar as costas mais à vontade que se interroga sobre o que andamos todos a fazer por cá, quando é que tudo isto começou, se há um fim e, nesse caso, se valerá a pena preocuparmo-nos com os prémios do seguro do carro. Talvez mesmo antes. Se observarem com atenção criaturas parecidas com os nossos ancestrais, como os saguins ou os bonobos, que são aqueles macacos que, como o homem, só pensam em sexo, podem vê-los muitas vezes com cara de caso. Lá no fundo, eles desconfiam de que há muita coisa que nós não sabemos.
O que vos propomos nos próximos dias é uma viagem pela História, com letra grande, por ser da disciplina que falamos, que uns dizem ser uma ciência, outros uma efabulação e a maioria das pessoas, nada com que valha a pena preocuparmo-nos. Não vamos discutir isso neste momento (há até quem diga que a História são mentiras acerca de factos que nunca ocorreram contados por pessoas que ainda não haviam nascido).

Não nos sentiríamos bem com a nossa consciência se vos omitíssemos a divergência que há, para não falarmos senão desta, entre aqueles que acreditam na ciência, (embora nem todas sejam como a matemática, que nos permite dizer algo tão indiscutível como ‘todos os números primos pertencem à mesma família’) e os que acreditam piamente no que vem na Bíblia desta semana. Mas sempre vos asseguramos que a segunda via é muito, mas muito mais fácil. Basta consultar aquela que ainda hoje é a mais influente de todas as obras literárias logo a seguir às Páginas Amarelas e descobrimos logo o que aconteceu a quem, quando, e o que vai acontecer, com a mesma precisão da revista Maria relativamente às telenovelas. Essa é uma das vantagens de ser uma religião do livro. Uma religião do livro é aquela cujos fiéis precisam de um livro para nunca se esquecerem dos fundamentos da sua fé. Uma religião revelada é aquela em que alguém já sabia tudo e se dispôs a contar aos outros.

O Big Bang

Todas as teorias que procuram explicar a origem do universo, ou o princípio dos tempos, têm em comum esta estranha obsessão do homem que insiste em afirmar que tudo teve um princípio. De facto, se experimentarem imaginar que não tem, vão ver que tudo se torna mais difícil. Quando o homem tem espaços vazios, preenche-os. Com o tempo é a mesma coisa. Ninguém se dispõe a pensar na eternidade se não for para fazer alguma coisa com ela.
O Big Bang foi, como o nome indica, uma explosão ao estilo dos filmes de Hollywood. Se tivesse sido provocada, teria custado 10 vezes mais massa que o filme Titanic. Terá ocorrido há cerca de 13 biliões de anos, mais milhão menos milhão. Só para chatear a Igreja, homens notabilíssimos como Georges Lemaître (1894-1966), que era padre, deram um empurrãozinho a esta teoria.
Não há como negar que isto é, em termos científicos, muita areia para as nossas camionetas. É muito difícil entender o que dizem os cientistas a este respeito, porque eles nunca estão de acordo, para alem de estarem constantemente a mudar de opinião.

Para a semana:

O nascimento do planeta Terra

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Hora de ponta

Para quem não tem a definição presente, o Limbo é (simplificando) o local para onde vão as crianças que não foram baptizadas quando morreram. Foi apenas esse o seu pecado, mas é a Lei. Poderíamos dizer que, muito raramente, a Igreja resolve livrar-nos de uma das suas incontáveis patranhas. Não pode ser mais que uma de cada vez, pois correria o risco de desaparecer.
Só que a questão não é assim tão simples. O próprio Ratzinger, ao admitir que os mais pequeninos, na sua inocência (do Lat. inocens = i + nocens, lit. que não pode fazer mal), não podem ser privados do Paraíso, arranjou-a bonita.
Quero ver agora como é que o Vaticano vai resolver o problema da afluência de biliões de crianças que se preparam para afluir ao céu, todas ao mesmo tempo…


[A descida de Cristo ao Limbo, Alonso Cano - 1601-1667]

Festival Curtas Eróticas - I

[Aviso: se tens mais de 18 anos podes continuar; mas se és a Maria Teresa Horta, keep cool baby!]

Quando a rapariga entrou na garagem, o sol recortava-lhe a esbelta silhueta, felina e sensual. Trazia uma curta saia de ganga e uma blusa aberta, livre como os lisos cabelos negros, como toda a sua aparência. Os mecânicos repararam nela, interrompendo por demorados e embaraçosos segundos a operação de ressuscitar os automóveis em repouso. Todos com idêntica falta de discrição.
Enquanto aguardava, reparou em dois deles dentro de um guiché, fazendo as mais diversas poses e caretas, simulando ter relações com ela, ignorando deliberadamente o facto de ela os ver tão bem como eles a viam, através do vidro.
Impaciente, dirigiu-se ao mecânico mais próximo. Por detrás dele, um grande calendário com uma mulher nua, de exagerados atributos, submissa, impudente, ofensiva.
«Precisava que me mudassem o óleo», atirou, completando a humilhação.

Curtas: Dia Internacional do Filho-da-mãe

Já não era sem tempo. Primeiro criou-se um dia para a mãe, para que as floristas pudessem fazer negócio num domingo. Depois outro para o pai, para equilibrar e, finalmente, vários dias do Espírito Santo, por diabólica imposição. Mas sentia-se que faltava qualquer coisa.
A verdade é que os filhos da mãe eram os únicos que não tinham um dia propriamente seu (se consultarem a página da ONU, encontram dias para todos os gostos e idades: do livro infantil, dos migrantes, do rim, da dança, o dia meteorológico, do sol, das telecomunicações, da televisão, das cooperativas, da aviação civil, etc.).
Assim e perante a necessidade inquietante de colmatar uma grave lacuna, uma vez que há até um dia contra a corrupção, vai finalmente comemorar-se o 1º Dia Internacional do Filho-da-Mãe. Em Lisboa, onde a iniciativa foi acolhida de braços e bolsos abertos, vários locais vão assinalar a efeméride, incluindo, pelo seu simbolismo, o Parque das Nações e a sede do PS, ao Largo do Rato.
Trafulhas das quatro partidas do mundo virão a Lisboa expressamente para o evento. Alguns workshops com nomes conhecidos do poder autárquico em Portugal estão já esgotados e é provável a sua repetição. Por outro lado, se não chegarem a realizar-se, não serão aceites reclamações. Os bilhetes estão disponíveis exclusivamente no mercado negro.

[segundo uma ideia de LL]

Um café, um bagaço e a crónica de uma revolução

A maior utilidade duma papelada que tenho para aqui, o programa do mandato do eventual futuro director duma qualquer faculdade em que estudei (leia-se, em que andei a ver as lindas raparigas a passar) é a possibilidade de escrever, no verso em branco, o relato de factos e acontecimentos extraordinários como os que a seguir descrevo.
Esta tarde, antes de me encontrar com ML, fui a um café para uma sacramental sandes de queijo e imperial. Eis senão quando, ao afastar-me para um canto resguardado do pestilento fumo do tabaco (Português Suave, o tabaco ‘das meninas da má vida’) começaram aquelas estranhas e misteriosas conversas.
O aspecto medonho dos protagonistas era tal que eu esperava ouvir algo que me deixasse petrificado, como: «é pá se o primeiro lance não é penalty, por que é que o outro há-de ser?», ou: «a mota é co’mós cavalos, é preciso dominá-la», ou, com ainda maior probabilidade: «a prática da natação pode iniciar-se, de acordo com alguns autores, com notáveis benefícios, logo a partir do 3º mês de vida do bebé».
Se pensam que foi isso que escutei, estão enganados. Não poderiam estar mais enganados.
«Estamos a falar da Revolução de 1383-1385, pá», atirou, sem que eu pudesse estar preparado, um dos participantes. E daí a pouco, enquanto procuro recompor-me daquela poderosa invectiva, eis que o mesmo volta a disparar, mesmo à queima-roupa: «D. João I era filho de D. Fernando e irmão de D. Pedro», para depois, completamente inerte a sua vítima, despejar o carregador: «então tu não vês que D. João I era membro da casa dos vinte e quatro...»
Já alguma vez vos deu para pensar que o criador deste mundo imperfeito joga aos dados com o universo (= nós mesmos)? Que ri às bandeiras despregadas, rebolando pelo chão celestial, das nossas pobres figuras? Já alguma vez tiveram esta mesma sensação mesmo sendo ateus?

O sapo e a Parafusa erraram

[a primeira parte deste post é séria. No restante é que pode haver pequenas inverdades.]

Lembram-se de vos ter falado de Amêijoas à Bulhão Pato? Pois é. Parece que afinal esse tal Bulhão Pato nunca cozinhou. O que aconteceu foi que num jantar dado em sua homenagem se confeccionaram as ditas amêijoas, ouvi José Hermano Saraiva dizer, que por isso passaram a chamar-se Amêijoas a Bulhão Pato, que é como quem diz, em sua honra.
Aqui fica a rectificação. Espero no entanto que essa moda nunca pegue e que ninguém se lembre de homenagear, por exemplo, Pedro Santana Lopes ou Alberto João Jardim dando o seu nome a um qualquer acepipe, tornando-o desde logo propenso a causar grandes indigestões.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Smart UFOs

Neste mesmo lugar esteve um post muito estúpido, justamente censurado, que tinha uma miúda muito jeitosa em trajes menores. Tragicamente, sem que se saiba porquê, a jovem foi raptada por extraterrestres.
A recompensa é choruda, mas há poucas pistas. Aqui fica a foto que consegui obter do rapto, com os OVNI em primeiro plano. Se observarem bem podem ver a miúda no 2º buraco, isto é, OVNI, a contar da esquerda.

Absurdo e realidades

No principio era o absurdo. E o absurdo estava com Deus. E o absurdo era Deus.

Nietzsche


Que excelente definição de como vamos por cá me deu hoje a provar o meu querido amigo JA:

A comédia é pedir amêijoas à Bulhão Pato e comer apenas as cascas. Em Portugal, pedimos as ditas amêijoas e servem-nos apenas as cascas. Não está nada mal, não senhor...

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Farto de esperar

Os seguidores mais fieis deste blog (eu bem sei que não passam de uns escassos milhares, menos ainda que o número de accionistas do CDS-PP que reelegeu o Paulinho Portas), os seguidores deste blog, reforço, poderão pensar que tenho alguma coisa contra o Metro de Lisboa, pois é já o segundo post que lhes dedico.
É que ontem fartei-me de estar tanto tempo à espera. Está bem, era domingo à noite, ainda assim há que ter respeito por por quem tem as cotas de associado em dia. Esperei mais de 13 minutos e alguns vinte segundos. Nada. Resolvi então fazer o percurso a pé. Ignorei o sinal que diz «perigo de morte» e desci aqueles degraus reservados à malta de fato-macaco azul (bloco operatório, clínica cirúrgica) e aventurei-me a pé no túnel do Metro, entre a Pontinha e Alfornelos. Se todos passam no Túnel do Marquês (mas por acaso eu fui o primeiro), cuja segurança levanta algumas reservas, eu achei que já era tempo de passar este, quanto mais não fosse, como forma de protesto contra esta falta de respeito.
Vê-se muito mal, desde já vos digo que têm que ter isso em atenção. Os carris também atrapalham, deviam fazê-los mais pequenos, ou então dar mais espaço aos peões. Pelo caminho lembrei-me de James Bond e Missão Impossível.
No fundo, reconheço que talvez não o devesse ter feito. Foi frustrante chegar a meio do percurso e ver o comboio das 22:30 passar por mim. É pá, nós nem temos noção da velocidade que aquilo atinge! É tão comum ainda estarmos a dormir quando vamos de metro para o trabalho...


olhem-me bem para aquele alucinado, a enfiar-se por ali... matam-se desta maneira e depois quem se atrasa sou eu. Ele há cada uma !















domingo, 6 de maio de 2007

Dor de alma

Hoje lesionei-me no pulso a jogar futebol. Aparentemente sem gravidade. Mas será? Sem gravidade, quero eu dizer? Procurem entender-me: se alguma vez tivesse tido ares de atleta, diria que não estou na melhor forma física, mas será mais exacto dizer que estou magro como sempre fui, ou como alguém disse, provavelmente um admirador, pareço uma radiografia mal tirada, mas com uma ligeira saliência na região abdominal que as más línguas insistem em chamar barriga de cerveja.
Só posso jogar à baliza, sob pena de ser mais um caso de morte súbita em campo. Nem subir escadas, quanto mais jogar avançado. Falho na defesa dos remates que não vão mais ou menos à figura, e também daqueles que pensava que não iriam à figura, acabando por me desviar de bolas fáceis. Como é a brincar, perdoam-me quase tudo. A não ser quando agarro a bola na sequência de um atraso, ou mesmo a deixo entrar. Acontece aos melhores.
Bom, hoje, como já perceberam, dói-me o orgulho, como ouvi dizer a um personagem do grande Quino. Lesionei-me por não ter sabido defender um petardo disparado a uns bons vinte metros da baliza (é muito num campo de futsal). A bola torceu-me o pulso, a malandra. E o jogador adversário, em vez de compreender que eu ainda não jogo muito bem, como certamente virei a jogar (aos 34 há grande margem de progressão), rematou com muita força, é pá com força também eu…
É uma pena, porque, como todos os homens sabem, um pulso flexível e um punho em boa forma fazem muita falta para uma série de actividades de lazer. O jogador que rematou aquela bola devia saber isso e a própria bola também. Estão a pensar em coisas lascivas, não é? Fiquem sabendo que é saudável e nunca nos devemos arrepender. Vou directo ao assunto, parafraseando outro monstro da comédia, Woody Allen: «there’s nothing wrong about it, it’s having sexual intercourse with someone i like».

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Super-heróis de carne e osso

O Rui Zink disse, há uns tempos, uma coisa muito perspicaz sobre o Homem-aranha. Ou melhor, sobre nós. Contou como ele, Rui Zink, quando era miúdo, não estava tão interessado em ver na BD os grandes saltos e as grandes proezas do Homem-aranha, quanto em vislumbrar a vida privada do Peter Parker. Isto é muito sugestivo e engraçado, mas não humorístico. É assim que nós somos. Quem não pensava no Super-homem com a Lois Lane, o épico Flash Gordon com a Dale Arden, e outros e outras que tais? Vão dizer-me que isso é só para as miúdas e que eu sou gay, queres ver? Num número da BD do Flash
Gordon, este é encurralado juntamente com outra mulher, que não a boa da Dale Arden, pelo assustador Ming. Pensam que vão morrer, e esta mulher pede-lhe um beijo. Mas são libertados, e Dale Arden apanha-os em flagrante delito. É uma bronca, porque a senhora zanga-se mesmo. «Tu não compreendes», balbucia o bonzaço do Flash, tentando deitar água na fervura. «Julgávamos que íamos morrer». E, para meu grande desespero, o número acabava ali.
Naturalmente, isto tem que ver com o que constitui o nosso maior apelo, as emoções, em particular, a cena dos corações. Mas tem que ver também com o que vos dizia e insistia, a realidade impressiona-nos mais que a ficção. Não é verosímil (nem tem que ser, dirão, e eu concordo…) que um homem, porque é picado por uma aranha radioactiva, ande por aí, mascarado, trepando sobre arranha-céus pendurado em teias de aranha, à chapada com gajos verdes com oito braços mecânicos. Mas a Lois Lane, a Mary Jane, a Dale Arden, e aqueles conflitos e triângulos e outros poliedros amorosos existem. Elas, avaliando pelas suas reacções, poderiam ser as nossas mulheres, com eventual diferença de atributos (a minha é muito mais gira e original). Continuaremos esta conversa.

















Para o meu amigo Miguel Leal
Para o Rui Zink
Para FJM

Dois alegres tigres (macho e fêmea, pois claro!)

Lembram-se de vos ter dito que a realidade supera sempre a ficção?
Pois bem, vejam esta. Quero dizer, ouçam esta. Caramba, leiam esta, pronto (mas de facto não soa muito bem). Um amigo, a quem muito saúdo, levou o filho de 5 anos à consulta de Pediatria. O petiz estava a desenhar, imaginem, «um tigre e uma tigra». O bom do pediatra, que já devia saber como é esta rapaziada das novas gerações-j-j, perguntou o que estavam o tigre e a sua amiga tigra a fazer tão coladinhos. Responde o miúdo: «estão a pescoçar». Exactamente, bolas, o que foi que não haveis entendido? Também há barrigar, pernear, enr... bom!! Então? É de uma criança em idade pré-escolar que falamos ! O veterinário… ai, o médico, é que não percebeu e vai daí: «a pescoçar ?!! Mas o que é que vem a ser tal coisa ?»
A resposta da criança que originou o divórcio do meu amigo: «Isso ainda não sei bem, tenho que ver melhor os filmes que o meu pai vê!»

Meu caro M. (o pai): M., amigo, os bonobos estão contigo ! Count one more…

Uma amiga comum contou, muito a propósito, esta anedota: Três crianças, de 3, 4 e 5 anos tomavam banhinhos de sol na praia, quando uma delas observa um casal em grandes palhaçadas. Diz a mais velha: «Está ali um casal a fazer amor». Diz a do meio: «A fazer amor?! A f****, queres tu dizer!». Diz a mais nova: «E à canzana, que é como eu mais gosto!»

[A moral deste post é óbvia: as vossas histórias de vida davam um 'ganda' blog. Por isso, keep'em coming fellas]

MRP proposta para Nobel da Literatura

Pois bem... tenho que defender aqui a minha posição.
E começo por dizer que nao concordo em nada com aquilo que foi dito pelo outro gajo, que por acaso tambem partilha este Blog, e que por um outro acaso ainda mais triste é meu irmão, sobre a Margarida Rebelo Pinto. Como se falou durante anos sobre a inclusão de José Cardoso Pires e mais recentemente Lobo Antunes... é de esperar mais ano menos ano, o surgimento do nome Margarida "Atropelo" Pinto para o Nobel da Literatura... Se Neruda já ganhou, Grass e até o nosso Saramago... é bom propormos um nome forte, com possibilidades de ganhar, pois tudo isto é uma questão de nome e o dela parece-me muito "pomposo". Quase de rainha.
A MRP é uma daquelas escritoras que, se fosse colocada numa máquina do tempo ... e viajasse 12 000 anos atrás, continuava a escrever memoravelmente... e os homínideos ficariam gratos pelos poucos avanços na arte da comunicação... Fo**** Levantei-me da cama francesa esta manhã e prometi que não dizia mal da MRP... Fo****. MRP ainda nao leu a Alegoria da Caverna, ou, o que é pior, não a entendeu, porque, se o tivesse feito, poupava-nos este constante martírio... Um ano e meio sem um livro seu no mercado... estavam a espera de outra coisa?

Joselito: «¡ Fique sabendo que acho incrível ainda não se terem lembrado da minha conterrânea Margarida Rebelo Pinto !»
Membro espanhol do comité Nobel: «Tienes toda la razón, por supuesto»»














A oratória barroca de MRP


Esta é uma história verídica. Porque a realidade supera sempre a ficção, o pretenso humorista tem que estar muito atento.

Ter amigos eruditos tem destas coisas. Aqui há uns tempos perguntava a um grande amigo que passa a vida mergulhado em investigações sobre a fundação da nacionalidade (não é o afundamento, é mesmo a fundação) o que pensava ele sobre Margarida Rebelo Pinto (a que tem alma de pássaro e responde a quase tudo qualquer coisa como… sei lá, traduzida para francês com o título J’en sais rien). E este amigo, muito mais decente do que este comediante de trazer por casa, humilde, discreto, respondeu: «é pá, não sei, nunca li, blá blá blá, não posso opinar, blá blá blá, não seria correcto e tal…». Eu disse-lhe: «é pá, não é por nada, mas uma gaja que escreve “o Pedro levantou-se e disse f****”, o que é que tu achas disto?» Foi demais para o seu brio letrado. Eis pois, a sua resposta: «ah não! isso não! qualquer escritor medianamente versado teria escrito, por exemplo: “f*****, disse o Pedro, levantando-se”; ou, ao estilo da oratória barroca de Vieira, talvez: “numa breve ejaculatória, atirou Pedro o maior dos impropérios”, mas nunca, por nunca, “o Pedro levantou-se e disse f*****”. É ignorar séculos de literatura, um retrocesso, inadmissível!»

Aprende, rapaz, que amigos destes não duram sempre.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Teclado Francës

Existe uma qualquer frase que diz: faco te a cama a espanhola....ou esta porta è portuguesa;
ja era tempo de alguem escrever sobre os teclados franceses que me obrigam a escrever esta mensagem a esta velocidade e parecer um deficiente, com este gajo aqui ao lado a pensar os tugas sao mesmo estupidos;; so para imaginarem a posicao das teclas:: das que existem....ok qaui vqi... desculpen vai... vou diwer unq coisq auqlauer so pqrq

inqgimqren... perceberam... espren la... e o ponto de interrogacqo...ok esauecqn...esquecam; esperem la.esquecqmmmmmnnnn.


quarta-feira, 2 de maio de 2007

Pensamentos de grande sabedoria e consolação

No fim do dia, pense em todas as boas acções que praticou. Por exemplo, ajudar um cão a atravessar a rua. Se não conseguir, não se preocupe: há muitos que não se deixam apanhar.

Se não praticou nenhuma boa acção, não fique frustrado: pode substituí-la por um bom pensamento. Por exemplo, enviar um link para este blog a uma pessoa de quem goste. Ela faria o mesmo por si!

Escreva regularmente cartas de amor. Caso seja casado, não deixe de escrever à sua mulher. Se não for correspondido, pedir o divórcio poderá ser uma boa acção.

Se for um dos raros portugueses que não deve uma pequena fortuna ao banco, alegre-se por isso. Ouvirá outros dizer que, nesse caso, é porque ainda vive com os pais. Ignore: à noite, é você quem adormece em primeiro lugar.

Não faça festas ao seu gato no sentido contrário ao do pêlo. Sobretudo, nunca permita que eles o façam a si.

Perca, ocasionalmente, uma moeda de 2€ no Metropolitano. Algum materialista ganhará o dia com ela. E não apanhe aquelas que os outros, que leram a 1ª versão destes pensamentos, deixaram. Espere que os outros o façam e, se necessário, indique-lhes o caminho.

Se vir alguém a electrocutar-se, não lhe estenda a mão, pois é evidente que não o poderá ajudar. Bata-lhe antes com qualquer coisa de madeira.

Partilhe estes pensamentos com os seus amigos. Se eles não quiserem, bata-lhes com qualquer coisa de madeira.


[as fotos são minhas; o gorila e o gato são amigos meus, mas custou um bocado a conseguir as poses]

Pesadelo cor-de-burro-quando-foge

Que pesadelo horrível me havia de sair hoje à noite na rifa! Livra! Imaginem um mundo dominado de tal forma pela Internet, que apenas uma em cada 50 pessoas lê os raríssimos jornais, em que de resto já ninguém se lembra de investir.
Parece que vos ouço: “bom, meu jovem, pode dizer-se que já faltou mais…”. “Ó meu amigo e a bem dizer, por mim era já hoje…”. “Jornais, qu’ é q’ vem a ser isso?
É pá, deixem-me continuar. Imaginem que escrever para esses jornais era, não uma tarefa intelectual exigente (a pressão dos prazos, a procura da originalidade, nós que o digamos, sempre à procura daquele artigo de opinião que nos desperta para determinadas realidades, cheio de potencial cómico), mas algo que as autoridades entregassem ao mais mal pago trabalhador precário, o tipo de trabalho que as empresas de subempreitada deixassem para o mais infeliz imigrante à procura da sobrevivência.
Admitam-no, é bem mais difícil, ou não? “É pá, mas quem é que havia de se lembrar duma cena tão rebuscada?
Não interessa. Contra sonhos não há argumentos. A verdade é que me imaginei, num futuro não muito distante, sentado num donut de jardim, a ler um desses jornais, com um papel de péssima qualidade, sem resistência nenhuma, rasgando-se à menor brisa, enchendo-me as mãos e a roupa de uma tinta miserável. Leio e reviro os olhos ao passar das atrozes noticias : “Infidelidade maxculina : não se preokupe, nóz temus a sulussão

[imagem: cortesia à força de http://www.towersystems.com.au/fhn_blog/archives/image.jpg]