sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Hipérboles e outras metáforas

A hipérbole é uma das figuras de estilo que mais usamos. Também pode ser uma curva, mas isso não é para agora. Caso não se recordem, consiste em exagerar uma expressão de modo a conseguir um efeito enfático como em «estou à espera de um aumento há séculos» ou «lá estava ela, morrendo de cansaço». É aliás frequente recorrer à ideia de morte nas hipérboles. Os Monty Python basearam uma das suas melhores rábulas na ideia de «morrer a rir». Tratava-se de uma piada extraordinária, a melhor que jamais alguém escrevera. Era de tal modo que ninguém poderia ouvi-la sem acabar por morrer de tanto rir, desde o autor da dita até ao exército alemão na II Guerra Mundial (podem vê-la e ouvi-la aqui, depois de escreverem o vosso testamento).
As crianças são useiras e vezeiras desta figura: «levas um soco que até desmaias» ou «levou cá uma assim, que foi parar à Lua».
Nos bancos da escola também se nota, e em testes então nem se fala. Os professores de História poderiam escrever milhões de livros (pimba, mais uma) com material deste, como o História de Portugal em disparates, em que muitos deles são hipérboles. Como a daquele aluno que achava que Camões tinha salvo Os Lusíadas ultrapassando o Cabo das Tormentas a nado. Man, ganda Camões! Na altura isso ainda não era possível.
Há povos mais «hiperbólicos» que outros. Os latinos são sem dúvida mais hiperbólicos que os germânicos ou os eslavos, embora quanto a estes últimos deva fazer uma salvaguarda, pois não falo nenhuma língua eslava. Mas acho bem mais provável ser um português ou um italiano a dizer que o Sporting ou a Lázio nunca mais vão ganhar um campeonato outra vez, ou a contar como foram um dia qualquer ultrapassados na autoestrada (quem sabe uma estrada secundária ou mesmo rua estreita) por um tipo que era doido (uma hipérbole meio metafórica), vinha sem luzes e não se via nada, no mínimo a duzentos. Quem sabe de marcha atrás…


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