terça-feira, 5 de junho de 2007

Atenção, curvas no tabuleiro

«The profuse phallic symbolism of chess provides some fantasy gratification of the homosexual wish, particularly the desire for mutual masturbation»
Reuben Fine, 1914-1993

That isn’t so fine, o Fine. Não faço ideia de quem sejas, ó meu, mas não será um jogo, por vezes, apenas um jogo?


Cornelis de Man, Os Jogadores de Xadrez, ca. 1670 - Museu das Belas Artes de Budapeste


Eu estou pouco habituado a comentar qualquer forma de arte, mas sempre vos digo, de forma puramente tosca que esta tela é giríssima. Deixem-me dizer assim em vez de “há vários motivos a chamar simultaneamente a nossa atenção, etc.”
Observemos: o lugar central na composição pertence ao homem, como convém. Mas este parece tomado de sobressalto. O que se poderá passar, que até a atenção do gato merece? O artista surpreende (connosco) a mulher ensaiando uma jogada que parece provocar o tal sobressalto do marido, se é o marido. Porquê? Desobediência às regras? Ou estará ela a levar a melhor? Hipótese demasiado ousada?
Vejam a diferença da indumentária. O traje destaca-lhe a nobreza a ele, enquanto ela está a modos que caseira. Será mesmo a mulher dele? Ou estará a ensinar a criada?

Parece incrível mas tudo isto vem apenas a propósito do tremendo sucesso que algumas xadrezistas têm feito, muito para além do tabuleiro. Elas andem aí, como diz o outro. E estão no topo sem deixar de dedicar atenção à moda ou à politica, cada vez mais contrariando simultâneamente a tradicional hegemonia masculina na modalidade, e a ideia feita de que o xadrez ao mais alto nível é para génios que não fazem qualquer coisa que não seja intelectual. Façam aí uma pesquisa e vejam como elas cuidam das curvas. Cuidemos nós das nossas, que os tempos mudaram mesmo.

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