quarta-feira, 16 de maio de 2007

Mais Pão com Manteiga, se faz favor

A ingratidão é um sentimento que me preocupa. É prima do esquecimento, já agora. De todo indesejável, se querem saber o que eu acho.
Este intróito é para vos dizer que, embora não tenha nunca chegado a ouvir o programa de rádio Pão com Manteiga, fiquei sempre fã dos seus criadores (penso que eram Bernardo Brito e Cunha, Carlos Cruz, Eduarda Ferreira, José Duarte, Mário Zambujal e Orlando Neves, espero não estar a omitir nenhum nome) depois ter lido o livro até à exaustão, tinha para aí uns doze anos. O Pão com Manteiga é um grande exemplo de como se faz bom humor em Portugal.

Seria pois injusto esquecer esta criação extraordinária. Mas é difícil aconselhar-vos a não perder: o programa acabou há décadas, o livro provavelmente só em alfarrabistas, e mesmo uma pesquisa nos salutares sítios da Internet que se dedicam a revivificar estas coisas dá um número assustadoramente baixo de resultados. Para saberem o quanto isto vale a pena, aqui ficam três das poucas pérolas que consegui encontrar, enquanto não revisito o livro que está na casa materna.

«A amiga pulou da cama, fresca, matinal, ainda cheia de orvalho e espreguiçou-se longamente em frente ao espelho.Deu o primeiro sorriso do dia a Roque, que a espreitava pelo canto do olho enquanto acendia a beata que apagara cuidadosamente na noite anterior. A amiga voltou a olhar o espelho, sempre sorrindo e prendeu o cabelo com dois ganchos. Depois, saltou para a balança e o sorriso apagou-se.
- Que foi? – Perguntou Roque.
- Dois quilos a mais… – esclareceu a amiga. Roque deu uma pequena gargalhada.
- E você ri-se! – Enfureceu-se a amiga. E encostando-se à cama perguntou:
- Onde é que está a graça, roque?
- É que por este andar, ainda passo a ser conhecido pelo Roque da pesada…»


CONJUGAÇÃO DO VERBO "FUGIR"

Eu fujo

tu safas-te

ele some-se

nós damos às gâmbias

vós ides na guita

eles raspam-se

Eu fugi

tu cavaste

ele deu às canetas

nós pirámo-nos

vós destes o fora

eles deram à sola

Eu fugia

tu davas às de vila-diogo

ele levava sebo nas botas

nós pusemo-nos na alheta

vós íeis com o gás todo

eles pisgavam-se

Eu fugirei

tu irás na gasosa

ele tingar-se-á

nós passaremos as palhetas

vós ireis na patanisca

eles pôr-se-ão a milhas

Eu fugiria

tu irias a toque de caixa

ele daria às flautas

nós levaríamos fogo no rabo

vós bateríeis a asa

eles iriam a nove.

Estas que se seguem, sei-as de cor, ao fim de todos estes anos:


Era um homem vertical, de espírito recto. Foi por isso que o mandaram dar uma curva.

Os pontos, a partir de dois, mudam de sexo. Passam a ser reticências.

Aluga-se teleobjectiva para fotografar parentes afastados.

Senhora míope procura cavalheiro com astigmatismo para troca de pontos de vista.

A ginástica é óptima para as crianças. Cansa-as.

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