segunda-feira, 28 de maio de 2007

A idade da Inocência (ninguém lhe dá mais de 83)

Um professor que tive, hoje um querido amigo, explicou-nos uma vez o que é uma metáfora. Eu, pelo adiantado da idade (74) e da parvoíce petulante, pensei «queres ver que este agora nos quer ensinar a todos, no 4º ano duma licenciatura em História, o que é uma metáfora?!». E ensinou mesmo. Não estou tão senil que tenha esqucido.
Explicou-nos ele que ‘metáfora’ é uma palavra que significa ‘transporte’, em grego, claro está (são os gregos os pais da retórica, e mesmo hoje, o comum dos mortais não tem senão umas luzes, melhor dizendo, umas sombras, das possibilidades da retórica clássica). Especificamente, é o transporte de uma palavra para fora do seu campo semântico. Atentemos no exemplo clássico dos manuais: «Aquiles era um leão na peleja». A palavra ‘leão’ está deslocada, não é este o seu campo semântico. O lugar do leão é a ressonar à sombra de uma copa frondosa enquanto a leoa sua as estupinhas para alimentar a família. Hoje em dia os leões passam imensas horas no cabeleireiro e um em cada três destes grandes felídeos é um metrosexual.
O meu amigo teria cumprido o seu papel de bom professor se a sua explicação tivesse ficado por aqui. Mas não ficou. Foi brilhante.
Se há assuntos que despertam a atenção, mesmo quando em coma profundo, duma plateia de estudantes com hormonas pululando, esses assuntos são o amor e, em particular, o sexo. Assim, quando nos aconselhou que reparássemos nas metáforas bélicas ou guerreiras presentes na linguagem amorosa, deveras pasmámos: “Conquistar” alguém. “Lutar” por alguém. São metáforas que se tornaram banais, mas, de repente, eis que se iluminam.
Depois, para premio duma assistência em júbilo: «bom, e o que dirão dessas metáforas gastronómicas, sempre tão em voga?» De zero a cinco, demos-lhe quinze.

Sem comentários: