sexta-feira, 4 de maio de 2007

Super-heróis de carne e osso

O Rui Zink disse, há uns tempos, uma coisa muito perspicaz sobre o Homem-aranha. Ou melhor, sobre nós. Contou como ele, Rui Zink, quando era miúdo, não estava tão interessado em ver na BD os grandes saltos e as grandes proezas do Homem-aranha, quanto em vislumbrar a vida privada do Peter Parker. Isto é muito sugestivo e engraçado, mas não humorístico. É assim que nós somos. Quem não pensava no Super-homem com a Lois Lane, o épico Flash Gordon com a Dale Arden, e outros e outras que tais? Vão dizer-me que isso é só para as miúdas e que eu sou gay, queres ver? Num número da BD do Flash
Gordon, este é encurralado juntamente com outra mulher, que não a boa da Dale Arden, pelo assustador Ming. Pensam que vão morrer, e esta mulher pede-lhe um beijo. Mas são libertados, e Dale Arden apanha-os em flagrante delito. É uma bronca, porque a senhora zanga-se mesmo. «Tu não compreendes», balbucia o bonzaço do Flash, tentando deitar água na fervura. «Julgávamos que íamos morrer». E, para meu grande desespero, o número acabava ali.
Naturalmente, isto tem que ver com o que constitui o nosso maior apelo, as emoções, em particular, a cena dos corações. Mas tem que ver também com o que vos dizia e insistia, a realidade impressiona-nos mais que a ficção. Não é verosímil (nem tem que ser, dirão, e eu concordo…) que um homem, porque é picado por uma aranha radioactiva, ande por aí, mascarado, trepando sobre arranha-céus pendurado em teias de aranha, à chapada com gajos verdes com oito braços mecânicos. Mas a Lois Lane, a Mary Jane, a Dale Arden, e aqueles conflitos e triângulos e outros poliedros amorosos existem. Elas, avaliando pelas suas reacções, poderiam ser as nossas mulheres, com eventual diferença de atributos (a minha é muito mais gira e original). Continuaremos esta conversa.

















Para o meu amigo Miguel Leal
Para o Rui Zink
Para FJM

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