quarta-feira, 9 de maio de 2007

Um café, um bagaço e a crónica de uma revolução

A maior utilidade duma papelada que tenho para aqui, o programa do mandato do eventual futuro director duma qualquer faculdade em que estudei (leia-se, em que andei a ver as lindas raparigas a passar) é a possibilidade de escrever, no verso em branco, o relato de factos e acontecimentos extraordinários como os que a seguir descrevo.
Esta tarde, antes de me encontrar com ML, fui a um café para uma sacramental sandes de queijo e imperial. Eis senão quando, ao afastar-me para um canto resguardado do pestilento fumo do tabaco (Português Suave, o tabaco ‘das meninas da má vida’) começaram aquelas estranhas e misteriosas conversas.
O aspecto medonho dos protagonistas era tal que eu esperava ouvir algo que me deixasse petrificado, como: «é pá se o primeiro lance não é penalty, por que é que o outro há-de ser?», ou: «a mota é co’mós cavalos, é preciso dominá-la», ou, com ainda maior probabilidade: «a prática da natação pode iniciar-se, de acordo com alguns autores, com notáveis benefícios, logo a partir do 3º mês de vida do bebé».
Se pensam que foi isso que escutei, estão enganados. Não poderiam estar mais enganados.
«Estamos a falar da Revolução de 1383-1385, pá», atirou, sem que eu pudesse estar preparado, um dos participantes. E daí a pouco, enquanto procuro recompor-me daquela poderosa invectiva, eis que o mesmo volta a disparar, mesmo à queima-roupa: «D. João I era filho de D. Fernando e irmão de D. Pedro», para depois, completamente inerte a sua vítima, despejar o carregador: «então tu não vês que D. João I era membro da casa dos vinte e quatro...»
Já alguma vez vos deu para pensar que o criador deste mundo imperfeito joga aos dados com o universo (= nós mesmos)? Que ri às bandeiras despregadas, rebolando pelo chão celestial, das nossas pobres figuras? Já alguma vez tiveram esta mesma sensação mesmo sendo ateus?

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